Eu não quero que me dês O mundo inteiro num beijo Eu não quero que me dês Latifúndios no Alentejo Eu não quero que me dês Mais do que tens para me dar Eu não quero nem amendoas Nem anéis nem um colar Nem declarações entusiastas Vou dizê-lo alto e bom som Para quem é bacalhau basta Para quem é bacalhau basta Mas dá-me bacalhau do bom Foi isto que ela me disse Foi a**im que ela falou Quando um dia lhe escrevi E ela depois telefonou Quando a fiu ver à janela A persiana corrida Tinha uma fresta e por ela Uma mão convidativa Dizia-me: sobe cá acima Subi ao sétimo céu Depois disse-lhe em surdina Depois disse-lhe em surdina Quem gosta de ti sou eu Depois fomos ao cinema Ver um filme de aventuras Cheio de peripécias Umas moles e outras duras Com tiros à queima-roupa E beijos à Holywood Lá me fui chegando a ela Imitando-os como pude Torcido como um ginasta Até que disse: que se lixe Para quem é bacalhau basta Para quem é bacalhau basta O teu amor é que é fixe Dei-lhe uma fotografia E fita-cola para a colar Foi colá-la na parede E disse: aqui vai ficar E mesmo se um dia formos Cada um para seu lado O teu rosto ficará Para sempre aqui marcado E enquanto que a gente se afasta Falará do noso amor Para quem é bacalhau basta Para quem é bacalhau basta E foi bacalhau do melhor A vida não vale nada E a morte vale ainda menos Mas quando é a nossa vida Vale aquilo que fazemos Desde o dia em que se nasce Até à noite em que se morre É com aquilo que se faz Que o caminho se percorre E se a vida é para ser gasta Vamos gastá-la a preceito Para quem é bacalhau basta Para quem é bacalhau basta Mas que seja bacalhau bem feito