Deixei as palavras Devorar-me os segredos, Abracei a cidade E prendi-a entre os dedos. Cansei-me das ruas, Das luzes de prata, Escondi-me nas portas Em vertigens de faca. Abri as janelas Sobre praças divinas, E fechei-te nos braços Sob a luz das cortinas. Mergulhei no abismo De um olhar tão urgente, E beijei-te sem pressa Pedindo-te o sempre. A vida é só este espaço vazio, Um instante demente Entre as margens de um rio. Um pedaço de tempo, De mentiras eternas, Uma névoa de gente De esperanças pequenas. Foi então que sonhei Que não tinhas partido, Que as mãos eram céu E as noites comigo. Acordei num abraço Sereno de ti, E foi preso no nada Que no sonho morri. Disseste que o quarto Te fugia das mãos, Eu perdi-me no medo Que tivesses razão. Mata-me a saudade Agarra-me para sempre... A vida é só este espaço vazio, Um instante demente Entre as margens de um rio. Um pedaço de tempo, De mentiras eternas, Uma névoa de gente De esperanças pequenas.