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O Nação Zumbi continua sua busca por novas sonoridades pós-Chico Science em um álbum mais rock, psicodélico e menos percussivo Já havia se pa**ado mais de 10 anos da morte do então líder e criador do Nação Zumbi, Chico Science. A busca por novas sonoridades já vinha sendo o novo norte da banda, iniciada ainda em 2005 com Futura, na tentativa de dar a identidade do agora frontman Jorge du Peixe, superando o lendário Science - sem negar seu legado. O flerte com a psicodelia se acentua, percussões discretas e as composições mais contemplativas, temas oníricos e existencialistas, como em “Originais do Sonho”, a**umindo sua inspiração na literatura sci-fi, trabalhando com camadas de realidade, com a suposição de tempos futuros e relações do homem com a máquina - relembrando “Lo-Fi Dream” do Rádio S.Amb.A (2000) e porteriormente no hit “Um Sonho” do último álbum homônimo. Já “Nascedouro” fala sobre parto para retratar o choque ao se buscar o sentido para vida, flertando com a filosofia. A canção inicial já dava pistas da ideia do álbum. “Bossa Nostra”, single e faixa que abre o álbum, provoca o ouvinte e apresenta mais referências por trás de suas letras. Mas isso não é o desapego total de sua raiz manguebit. A faixa-título traz em seu conteúdo uma temática política que já foi abordada pela banda em seu primeiro trabalho, que data da metade dos anos 1990. Se em “Da Lama ao Caos” a fome aparecia enquanto uma denúncia de um país desigual e que fabricava ladrões à medida que não dava o que comer aos pobres, aqui Jorge lamenta sua permanência, ainda que o país tenha pa**ado por diversas mudanças nesse período - "A fome tem uma saúde de ferro/Forte como quem come". Algo retomado em "A Culpa". "Quantos crimes são precisos/Se a inocência se foi", denuncia. Clima diferente de "Carnaval", no qual relata o ambiente dionisíaco e folclórico do período festivo. Aliás, Pernambuco é frevo e manguebeat. "Inferno" e "Onde Tenho Que Ir" mantém a linha intimista, ora pessimista - "no coração das trevas estou/e já não tenho mais direção" -, ora rendido - "por uma vida menos ordinária pintamos o chão/por isso você é o lugar pr'onde sempre vou e fico". As participações dão toque especial ao trabalho. Céu na já citada "Inferno" é discreta e maravilhosa na mesma medida, enquanto Junio Barreto contribui com composição e voz em "Toda Surdez Será Castigada". É uma faixa que caracteriza bem os sons que o Nação busca em sua nova empreitada. Money Mark, tecladista dos Beastie Boys, toca clavinete em "Assustado", em mais uma marcante composição e vocal de du Peixe. Para fechar o Fome de Tudo a Nação escolheu sua faixa mais delicada. Em “No Olimpo” repete-se o refrão como um mantra “Todos os dias nascem deuses, alguns maiores e outros menores do que você”. A possível mensagem é que constantemente superamos e somos superados: devemos reconhecer nossos méritos, mas não nos deixar levar por eles. Para quem não conhece a banda, o disco é uma ótima oportunidade para o primeiro contato com a lírica de du Peixe e com todas as possibilidades que os músicos criam para que o maracatu continue pesando uma tonelada. O pa**eio pelo Fome de Tudo, dentre suas participações, referências e sonoridades, chega ao fim nesse texto e saúda seus dez anos de existência como um dos grandes discos da música brasileira.