[Verso 1: Eduardo] Minha mão pequena bate no vidro do carro No braço se destacam as queimaduras de cigarro A chuva forte ensopa a camisa, o short Qualquer dia a pneumonia me faz tossir até a morte Uma moeda, um pa**e me livra do inferno Me faz chegar em casa e não apanhar de fio de ferro O meu playground não tem balanço, escorregador Só mãe vadia perguntando quanto você ganhou Jogando na cara que tentou me abortar Que tomou umas cinco injeções pra me tirar Quando era nenê tentou me vender, uma pá de vez Quase fui criado por um casal inglês Olho roxo, escoriação Porra! Que foi que eu fiz? Pra em vez de tá brincando, tá colecionando cicatriz Por que não pensou antes de abrir as pernas? Filho não nasce pra sofrer não pede pra vir pra terra [Refrão] O seu papel devia ser cuidar de mim, cuidar de mim, cuidar de mim Não me espancar, torturar, machucar, me bater Eu não pedi pra nascer O seu papel devia ser cuidar de mim, cuidar de mim, cuidar de mim Não me espancar, torturar, machucar, me bater Eu não pedi pra nascer [Verso 2: Eduardo] Minha goma é suja, louça sem lavar, siringa usada Camisinha em todo lugar Cabelo despenteado, bafo de água ardente, é raro Quando ela escova os dentes Várias armas dos outros moqueadas no teto Na pia, mosquitos, baratas, disputam os restos Cenário ideal pra chocar a UNICEF, habitat natural onde Os a**a**inos crescem Eu não queria Playstation, nem bicicleta Só ouvir a palavra "filho" da boca dela Ouvir o grito da janela "comida tá pronta!" Não ser espancado pra ficar no farol a noite toda Qualquer um ora por Deus pra pedir que ele ajude Ter dinheiro, felicidade, saúde Eu oro pra pedir coragem e ódio em dobro Pra amarrar minha mãe na cama por querosene e Meter fogo! [Refrão] [Verso 3: Eduardo] Outro dia a infância dominou meu coração Gastei o dinheiro que eu ganhei com álbum do Timão Queria ser criança normal, que ninguém pune Que pula amarelinha, joga bolinha de gude Cansei de só olhar o parquinho ali perto Senti inveja dos muleque fazendo castelo Foda-se se eu vou morrer por isso, obrigado meu Deus Por um dia de sorriso A noite as costas arderam, no coro da cinta Tacou minha cabeça no chão, batia, batia! Me fez engolir, figurinha por figurinha Espetou meu corpo inteiro com uma faca de cozinha Olhei pro teto vi as armas no pacote Subi na mesa catei logo a Glock "Mãe, devia te matar mas não sou igual você Em vez de me sujar com seu sangue eu prefiro morrer" [Refrão]