[Verso 1] 4 da madruga ouvi: "Bem acorda A bolsa estourou, tem contrações, tá na hora" Sem previsão do 192 pruma ambulância Vamos pro Hospital percorrendo a pé a distância O lixo reciclado não deu verba pro Táxi Nem fodendo imploro pro Copom solidariedade Vencemos a via crucis até a recepção Correram pra sala de parto, 10 de dilatação Como não tive um centavo pra Ultra**onografia Não sei o s**o do bebê ou se tem anomalia Nasceu só apresentado pelo vidro do berçário É um menino desnutrido, visivelmente mais magro Só alegria, até a a**istente social falar comigo Não, senhora, eu cato papelão, não sou mendigo Só entendi os 2 PMs preparados na porta Quando ouvi: "O Estado vai ficar com a guarda provisória" Enquanto o spray de pimenta me contém Sarcasticamente a puta diz que é melhor pro neném O obstetra já devia tá alerta Pra dá um salve com surgimento da criança certa "Alô, juiz, apareceu outro filho de esfomeado Dá a canetada e trafica pro cliente no aguardo" Não tem mais canção de ninar, primeiro pa**o e beijo A mão suja do playboy a**altou meu berço [Refrão x2] Dorme, neném, que a justiça vem pegar Papai não tem dinheiro então proíbem de te criar A mão do rico a**alta o berço pra depois traficar Criança pra gringo e boy escravizar, estuprar e matar [Verso 2] O dia da alta não é festivo, é depressivo O crime premeditado me faz pensar em suicídio É foda ver registrado no nome de um bacana Quem teve no ventre da minha mulher por 40 semanas Na vara de infância a preocupação não é segurança familiar É atender a burguesa que não pode engravidar Não é preciso de inseminação artificial É só esperar a fecundação de um mandado judicial A mesma mão que através da caneta me a**alta Aceita a Kwashiorkor na favela, nível Bengala As crianças em severa situação de risco Do Ipanema a Leblon, Asa Norte, Paraíso A intensa corrupção de menor nesses anos Converte herdeiros em carniceiros desumanos Meses se vão e eu me sinto um escravo leiloado Que o feitor-mor arrancava o filho do seu lado Sem nenhum tipo de a**istência jurídica Parei de sonhar com a reinserção gradativa O tribunal prefere abastecer comércio de gente Do que dar tutela pra pai biológico indigente Devia ter ouvido o mano da antiga É só olhar o cativeiro, repor a água e dar comida Se tivesse tentado as Ducati com lança morteiro Talvez a mão do rico não tinha a**altado meu berço [Refrão x2] Dorme, neném, que a justiça vem pegar Papai não tem dinheiro então proíbem de te criar A mão do rico a**alta o berço pra depois traficar Criança pra gringo e boy escravizar, estuprar e matar [Verso 3] Não posso permitir que meu filho acabe Com a língua cortada por um alicate Comendo fezes, ouvindo palavras racistas Como a menina na mão da procuradora de justiça Só por milagre não vai ser jogado pela janela No plágio dos Nardoni, no caso Isabella Mesmo iletrado e sem influência política Vou mostrar quem é o carroceiro que o motorista xinga Fiz meu drama comover uma tia do Conselho Tutelar Que me deixou ver a babá saindo pra pa**ear No dia, fingi que eu tava satisfeito Mas gravei o trajeto, o horário e o endereço 24 horas depois, uma faca no pescoço "É meu filho nesse carrinho, não grita socorro!" Fugi, mas fui filmado por vários circuitos internos Que ironia, agora sou procurado por sequestro Hoje é o décimo dia da minha fuga A foto no jornal me entregou pr'um filho da puta Que achou estranho um homem com um bebê Entrando às pressas em um dos dutos do Rio Tietê Percebo pa**os vindo na direção do esconderijo Lanterna na cara, gritos, armas, é o DAS invadindo Enquanto a mão do boy a**alta meu berço de novo Calculo minha pena no artigo 148 [Refrão x2] Dorme, neném, que a justiça vem pegar Papai não tem dinheiro então proíbem de te criar A mão do rico a**alta o berço pra depois traficar Criança pra gringo e boy escravizar, estuprar e matar