Verso 1
Constelações nas luzes da cidade, a ponta acesa
E a minha própria indentidade sentada na mesa
Do lado o rádio, um cacto e seis cervejas
A vida vem retira a venda para que eu veja
Eu me encaro, escancaro todo esse ressentimento
Sustento a pena contra o vento, a**isto todo o lamento
Busco a chave em meu talento, é sempre um processo lento
E o mestre tempo mostra coisas com que não me contento
E eu penso muito e dou um trago nessa brisa
Dou mais um gole e esse me afoga a vida
São dois tapas bem dados, e mais que merecidos
Aceitação, exercício que sempre faço comigo
Nos meus momentos de solidão, plena boêmia
Eu sei que não devia, mas muitas vezes minha terapia
A azia que chega marcando meu resto de dia e tocando meu ser
Me coloco nessa agonia, não acho saída e desejo desaparecer
E quem me olha, só de longe, não imagina né?
Yanick está sorrindo é verdade ou é migué?
Me sinto preso à um lugar sem recursos e fé
Mas pra andar, cabe a mim tirar os pesos do pé
Refrão
Com tão pouco vamos vivendo
Vendo alguns crescendo
Outros tantos morrendo
O que eu sou? O que eu sou?
Somos regados de conflitos e mágoas
Revelando espinhos
Florescendo palavras
Sou esse cacto, sou mais um cacto
Verso 2
Fazemos sombra, por esse asfalto quente e seco
Por esse sol ardente, queimando nossos medos
Raras chuvas que vem e levam nossas mágoas
E nos hidratam em meio à tantas plantas falhas
Que esses espinhos me protegam dos ferozes
Que nenhum barulho venha à superar as nossas vozes
Que nenhum calor extremo nos leve a morte
Viver nesse deserto cinza exige esforço e sorte
A terra seca em que piso, meus bolsos hoje vazios
Mas sei do que eu preciso, trilha certa e sem desvios
Desde que eu era muda, nessa floresta fraca
Mas a cena nunca muda, murros em pontas de faca
Me fazem mais forte a cada estação
Se não te mata, resista, Nietzsche já deu a lição
Amadurecimento, igual, sofrimento então?
Textura do coração, solo duro de sertão