Eu vi quatro quadras soltas
À solta lá numa herdade
Amarrei-as com uma corda
E carreguei-as pa'a cidade
Cheguei com elas a um largo
E logo ao largo se puseram
Foram ter com a família
E com os amigos que ainda o eram
Viram fados, viram viras
Viram canções de revolta
E encontraram bons amigos
Em mais que uma quadra solta
Uma viu um livro chamado
"Este livro que vos deixo"
E reviu velhas amizades
Eram quadras do Aleixo
Ó i ó ai! Há já menos quem se encolha
Ó i ó ai! Muita gente fala e canta
Ó i ó ai! Já se vai soltando a rolha
Já se vai soltando a rolha
Que nos tapava a garganta
Ó i ó ai! Já se vai soltando a rolha
Já se vai soltando a rolha
Que nos tapava a garganta
Ora bem, tinha marcado
Encontro com as quadras soltas
Pois sim, fiquei pendurado
Como um tolo ali às voltas
Chegou uma e disse: "Andei
A cumprimentar parentes
E eu aqui a enxotar moscas
Vocês são mesmo indecentes!"
Respondeu-me: "Ó patrãozinho
Desculpe lá essa seca
Estive a beber um copito
Com uma quadra do Zeca"
Ó i ó ai! Disse-me um dia um careca:
"Ó i ó ai! Quando uma cobra tem sede
Ó i ó ai! Corta-lhe logo a cabeça
Corta-lhe logo a cabeça
Encosta-a bem à parede
Ó i ó ai! Corta-lhe logo a cabeça
Corta-lhe logo a cabeça
Encosta-a bem à parede!"
Das restantes quadras soltas
Não tinha sequer notícia
Dirigi-me a uma esquadra
E descrevi-as a um polícia
Respondeu-me: "Com efeito
Nós temos aqui retida
Uma quadra sem papéis
Que encontramos na má vida
Diz que é uma quadra oral
Sem identificação
Que uma quadra popular
Não precisa de cartão
Se diz que pertence ao povo
O povo que venha cá
Que eu quero ver a licença
O registo e o alvará!"
Ó i ó ai! Quando se embebeda o pobre
Ó i ó ai! Dizem, olha o borrachão
Ó i ó ai! Quando se emborracha o rico
Quando se emborracha o rico
Acham graça ao figurão
Ó i ó ai! Quando se emborracha o rico
Quando se emborracha o rico
Acham graça ao figurão
Fui com a quadra popular
À procura da restante
Quando o polícia de longe
Disse: "Venha aqui um instante!
Temos aqui uma outra
Não sei se você conhece
Desrespeita autoridades
E diz o que lhe apetece
Tem uma rima forçada
E palavras estrangeiras
E semeia a confusão
Entre as outras prisioneiras
Se for sua, leve-a já
Que é pior que erva daninha
Olhe bem para ela: É sua?"
Olhei bem para ela: "É minha!"
Ó i ó ai! Nós queremos é justiça
Ó i ó ai! E dinheiro para o bife
Ó i ó ai! E não esta cóboiada
E não esta cóboiada
Em que é tudo do sherife
Ó i ó ai! E não esta cóboiada
E não esta cóboiada
Em que é tudo do sherife