O Brasil tem mostrado cada vez mais sua qualidade nas produções cinematográficas. Filmes como Tropa de Elite 2 (2010) batendo o recorde de bilheteria, e apesar das comédias pastelões dominarem grande parte do mercado nacional, há filmes que são pérolas, com grandes enredos e atuações. Para mostrar essa melhoria, citarei cinco dramas recentes que provam que nosso cinema é sim inspirador. Destaque para o cinema pernambucano que se mostra um dos polos de criatividade e escape de nossas produções. Febre do Rato 2012
Direção: Cláudio Assis
Roteiro: Hilton Lacerda
A anarquia, a liberdade, o dionisíaco, a crueza, o ser humano é de uma natureza, no fundo, animal, e a subversão de valores, costumes, o mundo ao avesso é o que Zizo procura. Um poeta marginal, solitário, a**im como os demais a seu redor, que tenta preencher sua existência, não necessariamente com algum significado, mas sim com o desejo humano, os mais profundos instintos. Terceiro filme de Assis, que faz da forma crua de suas histórias e personagens seu estilo, tem no roteiro de seu parceiro Hilton Lacerda uma Recife e seus subúrbios, marcado pelo movimento manguebeat, uma atitude anárquica que se mostra poética e solene em toda sua realidade torta e desvairada. O Som Ao Redor 2012
Direção e roteiro: Kleber Mendonça Filho
Pessoas e histórias se cruzam, isso é natural, pode ocorrer, um dia ou outro, de inúmeras formas, em diversas ocasiões. Alguns podem acreditar que é destino, mas o que acontece é que coincidências existem. Bem explorado por PT Anderson em seu Magnólia (1999), Mendonça Filho traz essa temática para o Recife, com todas suas nuances e “mundos”. Em um bairro de cla**e média, apartamentos, especulação e histórias diversas, que em algum ponto se resvalam, mas que, com toda apatia da vida dos grandes centros urbanos, pouco se aproximam, o som é o elemento que se sobressai nesse ambiente. Um retrato ficcional que ilustra bem as cla**e no Brasil, representado em um pequeno microcosmo. O Lobo Atrás da Porta 2013
Direção e roteiro: Fernando Coimbra
De tão cru e realista, a história que de forma simples - o que é um ponto positivo - é conduzida, mostra personagens dúbios e relações conflituosas em uma narrativa de início dramática, depois, um suspense casual, funcionando bem em cada ato e desenrolar. O desenvolvimento é de forma quase noticial - algo que poderia parecer um jornal policial sensacionalista, mas que não cai nessa armadilha -, onde os mostra de forma (quase) plena, em suas contradições e segredos, expondo-os por completo, afim de questionar sua moral. Isso é onde está a atração da obra: escancarando a crueza dos sentimentos humanos e realistas dos personagens e como eles são falhos e mesquinhos, com mentiras e jogos de dominação, a obra se completa como reflexão do indivíduo, suas nuances e o espelho que uma sociedade conservadora e violenta revela. Tatuagem 2013
Direção e roteiro: Hilton Lacerda
Em plena ditadura, uma trupe busca na arte um modo de vida, uma fuga da alienação e restrição que a população sofria, uma comunidade livre, anárquica. As histórias de um jovem militar e o líder dessa tribo se cruzam, chocando realidades diferentes e pondo em cheque valores. Um poético registro de uma era conturbada e sombria, no qual o amor e a liberdade se mostram superiores e guia para vida de um grupo que, através da arte, buscam um futuro, um novo horizonte para um estado repressor. Lacerda busca mostrar nos closes, nos diálogos leves e em toda atividade do grupo Chão de Estrela que o amor e a liberdade são fundamentais para o ser humano. Um retrato colorido e transgressor, nos mais singelos e honestos símbolos de sentimento, de uma sociedade amedrontada que tinha na arte da trupe um símbolo de frescor e esperança de um futuro sereno e digno. Que Horas Ela Volta? 2015
Direção e roteiro: Anna Muylaert
Por que não concorreu ao Oscar 2016? A história de Muylaert é um retrato de um Brasil que ascende e se vê em uma crise de cla**es e ranços de um país dividido socialmente, ainda segregador, mesmo com o notável desenvolvimento das últimas décadas. Principalmente pelos mais ricos que, não favoráveis a essa mudança de panorama, se veem “ameaçados”. Com a chegada de Jéssica, filha de laços afetivos distantes de Val - não só pela distância entre São Paulo e o nordeste -, que há anos é empregada doméstica. Vê-se a relação patrão-empregada, e então, o baque que é a chegada da filha que não aceita ficar com os favores dos patrões. O filme é naturalmente simples em seus cenário, diálogos e produção. É algo realisticamente apresentado, o que torna a história mais verossímil.