2015 começou turbulento para o Hip-Hop. Conflitos entre artistas e gravadoras, álbuns que não deveriam ter saído, outros trabalhos que saíram de surpresa apenas para cumprir contrato. Tudo isso contribuiu para que a relação ‘artista-gravadora' entra**e em voga e fosse discutida com intensidade.
A questão, no entanto, é delicada. E sua delicadeza está no fato de que estamos lidando com arte. Conforme o Hip-Hop evoluiu, as mãos do tempo trouxeram aos artistas uma cruel escolha: a**inar contratos com gravadoras grandes, com um lugar sólido na indústria de gravações, ou seguir independente, livre de contratos ou compromissos formais?
Muitos dos artistas que escolhem a primeira opção se arrependem. Outros acabam se metendo em situações complicadas por a**inarem o contrato. O início desse ano é um catálogo variado de episódios causam conflitos entre as duas partes. Vejamos alguns casos:
DMX e o álbum “Redemption Of The Beast” O veterano rapper DMX foi o primeiro a enfrentar esse tipo de situação. Em resumo, seu álbum foi lançado pela X Records sem sua concordância. Desnecessário dizer, houve um belo de um processo e uma discussão legal mais bela ainda. O trabalho entrou na cena durante a primeira semana de Janeiro e imediatamente provocou reações no meio do rap. O produtor Swizz Beatz foi um dos primeiros a manifestar desconfiança na autenticidade do álbum, provocando um rumor que foi depois confirmado pela equipe do rapper. “É tudo música roubada”, disse X depois de ver a tracklist da obra publicada sem seu consentimento. Os representantes da marca, no entanto, dizem o contrário.
Processos podem ser boas soluções, mas não podem voltar ao pa**ado. No fim das contas, álbum está na pista e a internet não perde tempo em downloads ilegais. Milhões já escutaram e até reviews já foram feitas. Afinal, um álbum do DMX não deixa de ser um álbum do DMX.
Lupe Fiasco e a Atlantic Records Esse problema que veio se arrastando desde metade de 2014 recebeu uma renovação no início desse ano. Lupe Fiasco já manifestou vontade de sair de sua relação com a emblemática Atlantic Records, casa do rapper pelos últimos 10 anos. Isso sem falar em seu desejo de não ser mais “relevante” na cena. Suas palavras para a Billboard foram, em tradução livre: “Eu não quero ser referência para músicas de boate e falar de todas as merdas que estão acontecendo. Estou feliz sendo um tanto sofisticado, o cara estranho e profundo que faz uma música poderosa – mas só dois ou três graus longe do centro da atenção”.
Quem conhece o trabalho do rapper e acompanhou a fundo seu último álbum, sabe que até em suas músicas está nítido esse desejo. Falo da faixa “Dots & Lines”, a quarta de seu último álbum – Tetsuo & Youth (2015). A análise superficial é quase cega para as sutilezas profundas da letra, então nós recomendamos que você veja sua versão anotada no site Genius, que pode gerar mais luz na a ideia em geral. Já adiantamos que a música se chamada “Dots & Lines” em referência à uma famosa expressão americana: a frase “sign on the dotted line” (a**ine na linha pontilhada), que faz alusão ao espaço dedicado à a**inaturas em um contrato entre partes.
Lil Wayne e sua saída da Cash Money Essa foi de longe a história mais comentada. E não é pra tanto: o próprio Raplogia alertou que a possível saída de Lil Wayne e ruptura da YMCMB significava uma mudança grande na cena e na obra do rapper. Essa história, ainda não concluída, apresenta em seus acontecimentos um processo de 50 milhões de dólares, além de uma expectativa acerca do destino da Cash Money de Birdman. Vale lembrar que ainda está em vigência o contrato de Lil Wayne com a gravadora, que foi renovado em 2012 para garantir mais 4 álbuns pela marca YMCMB – hoje são mais 3, já que IANAHB II já foi lançado e Tha Carter V permanece guardado. A a**inatura é só mais um peso pra compor a balança de toda a situação.
Ao menos os fãs foram agraciados com a mixtape “Sorry 4 The Wait 2″ , lançada em Janeiro deste ano. Como diz o título (“Desculpe pela espera”), o trabalho é apenas algo para preencher o vazio deixado pela Cash Money ao segurar TCV. O lançamento independente já era esperado, pois antes de lançar “Tha Carter IV” (2011) o rapper lançou “Sorry 4 The Wait”, mixtape que deu origem à sequel em questão.
Há possibilidades intermináveis no caso, mas por enquanto tudo indica que, apesar do contrato, Lil Wayne vá arranjar um jeito de sair. É provável que a questão se resolva nos tribunais. É esperar pra ver.
Vale mencionar: Álbum/mixtape surpresa de Drake
Drake surpreendeu toda comunidade Hip-hop com a mixtape (ou álbum) “If You're Reading This It's Too Late” (2015). Acredita-se que o título seja uma provocação à Birdman, pois o lançamento do trabalho completaria o contrato que o rapper de Toronto tinha em vigência com a Cash Money, que agora enxerga uma eminente ruptura. Portanto, sua oficialização significaria que o contrato do artista encontraria seu fim, deixando o Drizzy livre para ir onde quiser. E o destino de Drake já parece estar marcado, segundo o próprio Lil Wayne, fundador da Young Money.
O estranho do lançamento é que, apesar do próprio Drake reconhecer o trabalho como uma mixtape, o trabalho é reconhecido, por direitos autorais, como o quarto álbum de estúdio pela gravadora Cash Money Records!
Apesar da zona e do lançamento inesperado, o álbum foi bem recebido pelas críticas.