O hip-hop é conhecido como um movimento de essência negra. Desde sua fase embrionária na Jamaica até seu nascimento nos guetos americanos, o movimento era predominantemente negro e dificilmente haverá quem prove o contrário. Qualquer registro inicial da história dessa rica cultura está aí para provar esse ponto. Todos os primeiros nomes do rap eram negros. Falamos de DJ Kool Herc, Grandmaster Flash e Afrika Bambaataa, que depois influenciaram outros artistas como Rakim, KRS-ONE, MC Guru e outros
Contudo, é seguro dizer que o hip-hop tornava-se menos negro conforme evoluía e crescia em expressão. Claro, Beastie Boys, Vanilla Ice e Eminem estão aí para provar isso. Mas se an*lisarmos no geral o que cada etnia fez pelo rap, certamente não foram os caucasianos que roubaram a cena
Ali mesmo, muito perto dos guetos americanos dominados por negros, estavam os hispânicos, os latinos, que provavam do mesmo gosto amargo da pobreza e dos problemas sociais. Muitos eram imigrantes vindos de Cuba – ver Revolução Cubana para melhor entendimento – e de outros países da América do Sul. Esses estrangeiros compraram a idealizada história da terra da liberdade e encontraram uma rota para os EUA. E aparentemente a condição precária de vida não impediu os imigrantes de desenvolver famílias e criar uma história ali
Azar. O Hip-hop agradece
Imediatamente as culturas começaram a se misturar e o resultado foi uma produção artística que dispensa comentários em qualidade e quantidade. Vejamos alguns artistas:
- Mellow Man Ace foi quem trouxe a atenção do mainstream. O rapper cubano foi quem levou a influência latina para o topo das paradas americanas. No seu álbum de estreia Escape from Havana (1989), ele lançou uma faixa bilíngue chamada “Mentirosa”, que atingiu números impensáveis para uma música do tipo. Por isso, hoje ele é considerado o “Padrinho do Rap Latino”. Quem conhece bastante de Cypress Hill sabe que ele é o irmão mais novo de Sen Dog, e chegou inclusive até a fazer parte do grupo por um tempo. O nome do álbum em questão, é claro, é uma referência à grande quantidade de fugitivos do regime comunista cubano, que viam nos EUA uma oportunidade para melhores vidas, como já mencionado
- Cypress Hill também é uma potência. O grupo, formado por B-Real, DJ Muggs, Eric Bobo e o já mencionado Sen Dog, dispensa apresentações para qualquer interessado em hip-hop. O início da carreira deles já foi algo bem maior do que pode se esperar de um grupo novo na cena, e isso já se via em seus primeiros trabalhos. O álbum de estreia Cypress Hill (1991), por exemplo, já contava com a clássica “How Can I Just k** A Man” e ganhou dois discos de platina. O segundo álbum, Black Sunday (1993), superou o primeiro, ganhando três discos de platina e lançando no mundo “Insane In The Brain”, que na época foi a faixa que permaneceu por mais tempo no topo da parada americana. Quanto tempo? Ah, um mês e meio só. E quem quer saber mais sobre o grupo, recomendo a faixa Kronologik (ft. Kurupt)
- Big Pun é um nome que não podemos esquecer. Um dos maiores rappers latinos do mundo, seu trabalho não pa**a despercebido. É definitiva e literalmente um gigante. É o único da lista que já faleceu. Morto por problemas no coração, Pun deixou um baita legado para o hip-hop, rendendo até documentário! Seu álbum de estreia Capital Punishment (1998) é considerado um clássico e conseguiu um disco de platina. Recomendo fortemente o album para quem procura letras de qualidade, com ênfase na faixa “I'm Not A Player”
- E como não falar de Immortal Technique? O rapper do Peru é considerado um fenômeno com suas metáforas e linhas bem pensadas. Mas uma curiosidade: o artista segue um caminho um tanto diferente dos outros companheiros latinas já citados. É uma das potências do political hip-hop. Ele é conhecido por suas críticas à indústria musical e não tem o sucesso comercial como seu principal objetivo. Ele mostra que a influência latina não está só no mainstream, como também no underground. Quem buscar saber sobre ele agora vai encontrar letras que falam sobre marxismo, socialismo, luta de cla**es, religião e estupro! Dele, recomendo “Dance With The Devil” e “Industrial Revolution”
É claro que há muitos outros. Dava até um livro. Fat Joe, Chino XL e outros podem ser considerados artistas influentes nessa mesma área
O importante é não esquecer da importância monstruosa que a cultura latina tem para o hip-hop. Entender que sem ela, o hip-hop dificilmente seria igualmente poderoso como é hoje