Quando a sua voz me falou: vamos
Eu vi deus sentado em seu trono: vênus
A religião que nós dois inventamos
Merece um definitivo talvez... pelo menos
Perceba que o que me configura
É sempre essa beleza
Que jorra do seu jeito de olhar
Do seu jeito de dar amor
Me dar amor
Não te dei nada que seja impuro
No futuro também vai ser a**im
Se hoje amanheceu um dia escuro
Foi porque capturei o sol pra mim
Perceba que o que te configura
É sempre essa beleza
Que jorra do meu jeito de olhar
Do meu jeito de dar amor
Te dar amor
Perceba que o que nos configura
É sempre essa beleza
Que jorra do nosso jeito de olhar
Nosso jeito de dar amor
Nos dar amor
Não falo do amor romântico
Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento
Relações de dependência e submissão, paixões tristes
Algumas pessoas confundem isso com amor
Chamam de amor esse querer escravo
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro
Antes de ser experimentado
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita
O amor é um móbile
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor nos domine?
Minha resposta? o amor é o desconhecido
Mesmo depois de uma vida inteira de amores
O amor será sempre o desconhecido
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação
O amor quer ser interferido, quer ser violado
Quer ser transformado a cada instante
A vida do amor depende dessa interferência
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto
Decidimos caminhar pela estrada reta
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo
O amor não é orgânico
Não é meu coração que sente o amor
É a minha alma que o saboreia
Não é no meu sangue que ele ferve
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas f*gulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas
O amor brilha. como uma aurora colorida e misteriosa
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor
Se estivermos também a devorá-lo
O amor, eu não conheço
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo
Me aventurando ao seu encontro
A vida só existe quando o amor a navega
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita
Ou melhor, só se vive no amor
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto