Verso 1:
Não sou complexo meu caro, sou simples e claro
Sinceramente talvez até demasiado
Não sou da rua, nem do gueto, nem do bairro
Proveniente de um ambiente familiar equilibrado
Filho único, talvez um pouco mimado
Orgulhoso, mau feitio, com quem estou mais chegado
Criado na Cooperativa dos Trabalhadores de Aldoar
Que do zero, algum dinheiro, conseguiram amealhar
Sou educado, calmo e bem resolvido
Sem grandes dramas ou traumas dignos de registo
Infância fantástica que adoro recordar
Onde a única função era brincar e estudar
Palavras do meu pai ocupado com 2 empregos
Estruturado com uma mãe à qual não guardo nenhum segredo
Adolescência libertária,
Onde a loucura e a responsabilidade se tornaram solidárias
Bom aluno, nunca deixei de o ser
Bem ou mal, no fundo, sempre gostei de aprender
Dei no duro, e sim, eu tenho um canudo
Idealizei o meu futuro relativamente seguro
Nunca me armei em guna, ou pseudo-mafioso
O comportamento criminoso sempre me deixou nervoso
Pensamento cauteloso e transparência no rosto
Represento o Hip-Hop, nem sei se é suposto!
Refrão:
Fora do estereótipo, fora do vulgar
Nunca quis liderar, nunca quis imitar
Único, autêntico, real à minha essência
Nem melhor, nem pior, primo pela diferença
Verso 2:
Sou velha guarda, da velha escola dos anos 90
Boom bap, sebenta, pratos da minha ementa
Fundador da Livre Comunidade Rimática
Equipa mítica, extinta que deixou a sua marca
Aluno dos primórdios deste Hip Hop luso
Original, com conteúdo, eu carrego o testemunho
Ouvir para rimar, aprender para ensinar
Ganhar tempo e perder-me nos arquivos a investigar
Mais de dez anos, inédito, com um objetivo
Desenvolver um discurso estável e amadurecido
Afinar a dicção, espaço para a respiração
Uma rápida metralhadora… virou canhão!
Pouco espontâneo, nunca fiz muito improviso
Sempre dei demasiada importância àquilo que digo
No fundo tímido, confortável por ser desconhecido
Concertos eram momentos de ansiedade e nervosismo
Tantos sons, projetos, participações
Tantas mudanças e desilusões
Deixaram-me em casa, sozinho, refundido
Eu ainda me admiro que tenha sobrevivido
Resgatado pelas tropas do 6º sentido
Dior F.M., tu sabes que eu sintonizo
Grande Né, eterno motivador peremptório
Poeta de Rua, Amarante, Laboratório!
Refrão
Verso 3:
Gajo discreto, sem dar muito show-off
Tanta gente que me conhece, nem sabe que eu faço Hip-Hop
Entendido em política, economia e história
Praticante de ecoturismo e agricultura biológica
Pensador ativista na procura de soluções
Atento observador com singulares visões
Camuflado na rotina, operária, citadina
Testemunha da chacina de quem raciocina
Dia-a-dia, trabalho casa, casa trabalho
Mas com o cérebro focado nas linhas do meu diário
Sem tempo para sentir o meu tempo desperdiçado
Em permanente contacto com quem me tem apoiado
Músicas são como namoradas, vêm e vão
Amigos criadores ficam em eterna ligação
Eis a minha motivação num mercado minado
Onde só vingas com um agente e marketing adequado
Negócios, conhecimentos, espírito de empresário
Eu mantenho-me afastado, colado no meu vocabulário
Na evolução da expressão e métrica de cada poema
Na diferença da abordagem de cada tema
Lemas e princípios dos quais não abdico
Ser reconhecido? Sinceramente, eu não preciso
Lírico exclusivo, no teu ouvido, educativo
Sou mentalmente ativo, ainda puro e criativo!
Refrão 2x